Algo que não podemos deixar de discutir é sobre as formas de governo. Eu estava fazendo um estudo e encontrei alguns que deram certo, outros que nem tanto, e, não sei se vocês conhecem uma forma de governo chamada ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, que é, basicamente, um sonho se um dia nosso país adotá-lo como um todo. Esta seria a forma mais justa para todos os cidadãos, garantindo o cumprimento dos Direitos Humanos, no que se refere, pelo menos, a qualidade de vida. Entendamos alguns conceitos primordiais e adiante, entraremos em discussão.
DEMOCRACIA:
No sentido mais amplo de seu significado, como coloca Cristina Gomes, é algo
feito para a população e pela população, o objetivo é coletivo e é realizado
também de forma coletiva, sendo os mesmos responsáveis pelas decisões que serão
tomadas por intermédio de representantes. A democracia surgiu na Grécia e o
governo era realmente exercido pelo povo se reunindo em praça pública como uma
forma de debater e tomar decisões coletivamente, que é o que chamamos de
Democracia Direta. Com o tempo, houve o aumento populacional e as reuniões em
praça pública já não eram mais viáveis, com isso surgiu a Democracia
Representativa, e a partir do voto, eram escolhidos representantes para tomar
decisões em nome do povo, o que denominou-se, também, mandato político. Ou
seja, quando nos referimos a palavra Democracia, quer dizer algo que é a favor
do povo.
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO:
De forma breve, seria algo que proporciona a participação direta do povo, onde
através dele se levantam problemas, soluções e discutem o orçamento público e as políticas públicas, se ressalta as
vulnerabilidades e potencialidades para, a partir daí, se analisar o que é
prioridade e o que não é, de forma democrática, levando em consideração o
orçamento do município e fazendo o indivíduo, enquanto cidadão, participar de
forma ativa do governo da cidade, entendendo o que é feito com o seu próprio
dinheiro e podendo opinar a respeito, conquistando um papel crucial da gestão
pública, com voz e vez nesse processo.
CONSELHOS
DE GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Antes
de tudo, Eduardo Granha Magalhães (2003) coloca como sendo papel dos conselhos
gestores alcançarem alguns objetivos, que são esses: “promover a construção da
cidadania e a educação política; viabilizar a identificação e captação permanente
das demandas da sociedade; e exercer controle social sobre o governo”. Esses
conselhos são formados por representantes da sociedade civil e poder público
com a função de propor diretrizes políticas, fiscalizar e controlar, vinculado
ao Poder Executivo, que, embora ligados a este, exercem poder autônomo em suas
decisões. Vale a pena ressaltar que a participação nesse conselho não tem um
fim próprio, por isso, o ato de participar está totalmente voltado à construção
de um projeto da sociedade. E por diferentes projetos existirem, há uma negociação
de disputa e pacto de responsabilidade da Sociedade Civil e do Estado na
elaboração de Políticas Públicas.
POLÍTICA NACIONAL DE
PARTICIPAÇÃO SOCIAL: Essa política tem como principal objetivo
fortalecer os mecanismos democráticos de diálogo e funcionar como intermédio
entre a administração pública federal e a sociedade civil, consolidando a
participação social como método de governo, obrigando de certa forma que a
população seja consultada antes de qualquer decisão de interesse da sociedade
civil. Frei Betto (2014) vai
dizer que “A
política de participação social introduz nas estruturas do Estado brasileiro um
mecanismo de consulta popular".
PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS EM CADA UM
A
Democracia, assim como todo sistema,
pode elencar pontos positivos e negativos, não dentro de uma perspectiva prática
de 100% de acertos ou erros, pois é sabido que não é bem assim que funciona,
mas sem dúvida alguma o direito ao voto livre e secreto, a liberdade de poder
formar partidos políticos, ainda que dentro de regras pré- definidas,
manifestação livre e pública, após eleito um representante de governo que pode
ser fiscalizado, não só por outros parlamentares, mas também pela imprensa e
pelo povo. Dentre esses pontos , quando postos em prática, encontram-se lacunas
que fazem com que o sistema não seja totalmente eficiente e eficaz, como
exemplo prático, a demora da aprovação do poder legislativo para aprovação de
determinadas decisões tomadas pelo governo, a falta de base educacional e até
mesmo de interesse dos eleitores em saber mais sobre os candidatos nos quais
irão votar, sendo essas pessoas manipuladas com promessas que dificilmente
serão satisfeitas da forma que foram, e desta forma, eles conseguem se manter
no governo por um longo período de tempo.
O
Orçamento Participativo traz dentro
de sua prática de forma positiva o poder da participação popular em suas etapas,
fazendo com que se torne mais transparente e trazendo mais credibilidade a
todos os participantes do processo, e o interesse da participação da juventude
nesse processo traz uma renovação expressiva do OP, em contraponto, para que a
execução de uma forma mais efetiva dessa forma de governar, se faz necessário
uma sensibilização da população, levando a estes o conhecimento e
conscientização dos quais eles são mandatários, o que se sabe que isto ocorre
em uma minoria, tornando o plano menos eficiente e eficaz.
Conselhos de Gestores de
Políticas Públicas são uma inovação positiva que entra em
cena na política pública permitindo uma articulação entre a sociedade civil e o
governo, mesmo ainda não sendo possível estabelecer um padrão único de
comportamento entre os agentes desta gestão, pois se de um lado existe uma
burocracia que tem seus prazos e exigências que dependem de outros níveis de
poder, do outro permanece a luta efetiva pela implementação destas políticas,
se tornando uma queda de braço dentro deste cenário. Esses conselhos
representam uma grande conquista entre a sociedade e o Estado, garantindo uma
abertura para que se veja o que é, de fato, interesse público, transparências
no que realmente for colocado em prática e, sem dúvida, o controle de recursos
públicos.
A
utilização de mecanismos como o da Política
Nacional de Participação Social é um avanço para uma significante
participação social como procedimento de governo, o que proporciona uma
interação entre o poder público e a cidadania no que diz respeito a definição
de suas reais prioridades, o que de certa forma acaba estimulando a
participação social aprimorando a relação entre a sociedade civil e o governo
federal. Infelizmente o que se vê como negativo na implantação deste tipo de
política é o que gira em torno da real execução da mesma sem que seja aplicada
em torno de um interesse unilateral. É uma estratégia onde se não houver de
fato uma abertura para a participação efetiva da sociedade civil como um todo
de forma igualitária não passará de linhas e linhas escritas, ou seja, palavras
ao vento.
A
democracia é uma forma de governo, isso configura o direito e o poder do voto
das pessoas, mas isso não significa que estejam tomando as melhores decisões.
Ainda que, no atual cenário em que nos encontramos, tenhamos nos deparado com
números bastante negativos, essa é a melhor forma de governar, sem dúvida.
Sem
participação do povo não existe democracia. Com a capacidade que o ser humano
tem de praticar justiça torna a prática da democracia totalmente possível, por
outro lado, ela não é somente possível como necessária, tendo em vista que a
mesma capacidade que o ser humano tem pra justiça, também tem para tentar
contra outros, tanto de sua mesma espécie quanto de outras. Ao considerar todos
esses pilares como processo de avanço da participação efetiva da sociedade
civil, estimulando a participação em processos decisórios, debates, formulações
e reformulações e avaliações, pode-se dizer que o governo teve gestos
importantes ante o cidadão.
Todas
essas formas de organização política e participação social são ações que
fortalecem a democracia, aumentando a sua legitimidade, melhorando a sua
qualidade e representatividade, trazendo ao cidadão uma necessidade de fazer
parte como indivíduo ou grupo e atuar pelas vias criadas de forma ativa para
satisfazer as suas aspirações em todos os segmentos.
Tudo
isso produz um processo que pode gerar uma inovação de organização social
mobilizando a participação dos cidadãos nas políticas públicas, cabendo agora à
sociedade civil de forma organizada e cada vez mais ampla, levando ao
conhecimento da população e a conscientização aos que não possuem meios para
que estas informações cheguem até eles, testar essas implementações de
políticas públicas, se fazendo representar nos conselhos, nas ouvidorias e
audiências. Essa atuação de organização e consequente execução são gigantescas,
podendo tomar proporções significativas em questões como democratização,
isonomia social, direitos e deveres dos cidadãos e defesa dos direitos humanos.
Todo
esse movimento de participação social efetiva, tende a gerar um maior empoderamento
do indivíduo quanto às políticas públicas, e isso reflete na expressão de sua
subjetividade, uma vez que todas essas formas de organização transmitem os
anseios e as necessidades dos grupos nos quais estão inseridos, através de uma
conscientização quanto à vida comunitária. Ressaltando que o sujeito
constitui-se socialmente, toda e qualquer decisão e forma de organização
popular e grupal vai refletir diretamente na vida dos cidadãos, visto que o
homem é um ser político e não pode viver alheio à isso, já que é algo abrangente
em todas as esferas da sua vida. De
tal modo, está intrínseca a subjetividade humana em tais ações, que vão dando
também um suporte, fundamentando a sua construção.
Mesmo
que ainda persistam as formas de “politicagem” ou de política no sentido
pejorativo, em meio as tentativas de democracia e organizações, é
imprescindível que os indivíduos continuem na elaboração de propostas,
fiscalizando-as e controlando-as, pois segundo o pensamento de Rousseau(1754)
“Se a causa do mal é a política, a solução também o é. A solução não virá de
Deus ou deuses, nem da natureza, mas dos homens.”. Podemos fazer a reflexão
dessas palavras, de que a criação do Orçamento Participativo, dos Conselhos de
Gestores de Políticas Públicas, da Política Nacional de Participação Social e
da Democracia, é um dos resultados da tentativa de tentar solucionar algumas
desigualdades e tentar dar vez e voz ao povo como preza nos conceitos da
democracia. Vai de encontro ao pensamento de Rousseau quanto a responsabilidade
humana de solucionar tais questões que são adversas ao verdadeiro significado
de política.
A
democracia é, basicamente, o governo do povo, no qual protege os direitos e
liberdade dos indivíduos que compõem a sociedade. Se faz tão importante no
enfrentamento da tirania governamental, além de possibilitar o desenvolvimento
humano, a proteção dos interesses essenciais das pessoas e a igualdade
política. Mas o Brasil não apresenta ainda uma democracia completa, mas
parcial. Não adianta apenas votar diretamente nos nossos candidatos,
principalmente quando boa parte da população não volta sua atenção para as
consequências de seus votos.
É
muito comum ouvir dos cidadãos a expressão “eu odeio política”, e esses possuem
o poder de voto, também. O cuidado em analisar as propostas de governo, os
escândalos do partido ou o histórico de seus candidatos, é praticamente
inexistente em muitos municípios. Além de que ainda não há uma conexão clara
entre o que o povo deseja e o que o Estado oferece. O poder tem sido exercido
em favor de quem se não além dos próprios agentes do Estado? O poder de todos,
que é o voto, tem sido exercido a serviço de um, e esse em favor de si próprio.
Houveram diversas mobilizações do povo nesses últimos anos, cansados de tanta
corrupção, inflação subindo, violência aumentando, assim como os impostos, mas
o grande problema é que após um grande esforço o povo esfria e acaba deixando
passar. Mas nem tudo foi deixado de lado, a partir do “vem pra rua”, que foi a
chamada dos últimos movimentos, puderam conseguir o não aumento dos vinte
centavos nas tarifas de transporte público e ainda a baixa das mesmas em alguns
estados do Brasil, assim como outros direitos contestados pelos movimentos
sociais.
Faz-se
necessária uma reforma política. Este assunto está em pauta em várias propostas
de governo, mas como esperar uma reforma se os políticos não vão fazer nada que
vá contra seus interesses próprios? A cada dois e quatro anos há eleições e
somos vítimas da nossa própria armadilha. Como podemos permitir que hajam tantas
taxas de auxílio aos governantes, aposento por cargo político, se o certo seria
em função do cargo civil, por exemplo? Deveríamos protestar também contra os
cargos de comissão ou comissionados, que são ocupados por pessoas de
“confiança” do político que está entrando em um novo mandato, como se fossem
capitanias hereditárias. Essas e muitas outras questões são esquecidas por nós
quando estamos frente as urnas.
Algo
que está acontecendo atualmente, dos dias 1 a 7 de Setembro, e de extrema
importância, é a organização de um Plebiscito Popular lutando por uma
Assembleia Constituinte, na tentativa de que as cidadãs e cidadãos votem para
aprovar ou não determinadas questões, que, de acordo com as leis brasileiras,
apenas o Congresso Nacional pode fazê-lo. Questões estas que partem das
necessidades da população, e que precisam ser decididas pela mesma em como deve
ser feito e direcionado tanto imposto que pagamos e não temos visto tanto
resultado assim. Não tem como esperar que haja uma reforma política sem mudar a
maneira como nosso governo se apresenta. O Congresso Nacional que votam quais
são as leis que devem ou não ser aprovadas, é composto em sua maioria por
fazendeiros, empresários, pouquíssimas mulheres e pessoas negras e com menos
jovens ainda, ou seja, uma minoria da população brasileira, é preciso que as
propostas de mudança política de iniciativa popular não necessariamente
dependam de emenda constitucional.
Precisamos
reformar também a nossa forma de votar. Os cargos que são ocupados já possuem tempo
demais em vigência para persistirmos no erro e sempre elegermos os mesmos
representantes. Representantes estes, envolvidos em escândalos de CPI, paraísos
fiscais com o desvio de verbas públicas e muitos outros casos que se apagam de
nossas mentes quando percebemos que um governo está pior que o anterior.
Seguindo
essa ideia, o Orçamento Participativo seria ideal para que o governo
funcionasse, tendo em vista que é um processo pelo qual a população decide onde
serão aplicados os recursos e quais serviços serão executados pela
administração do município, e de forma direta, ou seja, a população é quem
elege as prioridades de onde vivem. Ninguém melhor para saber do que precisa
que o próprio povo. E conforme a ONU, a experiência é uma das 40 melhores práticas
de gestão pública urbana no mundo, por ser instrumento de participação popular
que funciona, de fato. Um ótimo exemplo é Porto Alegre, onde vão, anualmente,
diversos estudiosos de todas as partes do mundo, conhecer sobre o OP na
capital, através de líderes comunitários. Lugares como Saint-Denis (França),
Rosário (Argentina), Motevidéu (Uruguai), Barcelona (Espanha), Toronto
(Canadá), Bruxelas (Bélgica), Belém (Pará), Santo André (SP), Aracaju
(Sergipe), Blumenau (SC) e Belo Horizonte (MG), adotaram esse sistema.
Um
exemplo de governo que tem dado certo, também, é a experiência dos Comitês de
Terra Urbana na Venezuela, no qual é uma iniciativa legislativa que visa
conseguir o cumprimento dos mandamentos da Constituição da República do país,
de 1999, no sentido de garantir o direito à moradia digna, bem como o direito à
participação popular como protagonistas das tomadas de decisão. As cidades
atuais, principalmente localizadas nos países subdesenvolvidos, sem, contudo,
excluir cidades pertencentes aos países desenvolvidos, não correspondem ao
ideal de cidade desejado, em que se preza pela inclusão social, pela justa
distribuição dos ônus e benefícios do processo de urbanização, de modo que a
população consiga usufruir, de maneira justa, as riquezas, culturas, bens e
conhecimentos que a cidade oferece, e que, acima de tudo, todos os cidadãos
tenham acesso a uma moradia digna, munida dos componentes mínimos preconizados
pelo comentário geral nº 4 do Comitê sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais da ONU, que são a segurança legal da posse, disponibilidade de
serviços, materiais, facilidades e infraestrutura , custo acessível,
habitabilidade, acessibilidade,
localização e adequação cultural.
Como
exemplo de fracasso e retrocesso, não podemos deixar de citar os partidos
religiosos. Vivemos em um país “laico”. Questões como aborto, pessoas negras,
comunidades LGBT e seus direitos civis e a eutanásia, o Estado manifesta-se
parcialmente a favor. Na tentativa de agradar a todos, transforma-se em uma
Teocracia, ou seja, em um sistema de governo em que as ações políticas,
jurídicas e policiais são submetidas às normas de alguma religião. São grupos
que sofrem a marginalização. Têm facilmente seus direitos violados e negados,
por bancadas evangélicas e a soberania papal. Até mesmo outras religiões e
doutrinas são segregadas em função de quem tem maior poder econômico e
político, voltado para seus preconceitos e interesses próprios, nos remetendo a
resquícios de uma era medieval.
Referências
J.
J. ROUSSEAU, Discurso sobre a origem e
fundamentos da desigualdade..., p. 282. Ano 1754
RIGINIK,
Alexandre. Comitês de Terra Urbana: um
verdadeiro espaço de gestão democrática da cidade logrando a concretização da
regularização fundiária em prol da moradia digna. 31, Ago. 2014, RS.
Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14191#>
Acesso em: 02, Set. 2014.
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