sexta-feira, 1 de março de 2013

Existencialismo. O que é isso?




     "Esse foi um trabalho da faculdade feito em equipe essa semana, que me deixou bastante curiosa a respeito.  Os temas existenciais tratam, como o nome mesmo sugere, sobre temas da existência humana. São sentimentos que são difíceis de compreender, embora todos saibamos o que são, há uma extrema dificuldade em falar a respeito. Veja:  'o que é liberdade para você? Já se sentiu sozinho ou angustiado? Já sentiu culpa por alguma coisa? Você se considera uma pessoa autêntica? Então, você sabe explicar?'"

      A princípio, uma breve definição do que é o existencialismo: foi uma corrente filosófica que surgiu entre os séculos XIX e XX, na qual baseava-se na existência humana,  remetendo-se ao homem como sujeito, e não como ser pensante, como essência. Afirmava que o homem não havia sido criado com um propósito determinado, mas que ele construiria sua essência ao decorrer de sua vida, com suas experiências, com isso, alguns de seus filósofos mais importantes, como Nietzsche⁽¹¹⁾  Sartre⁽¹²⁾,  negavam a existência  de um Deus, entoando a frase "Deus está morto!" . Outros filósofos tão importantes no existencialismo, também, foram Heidegger⁽⁵⁾ e Kierkegaard⁽¹³⁾, este último legou à corrente a ideia central da liberdade do homem, bem como de sua eterna aflição perante a falta de um projeto que regeria a caminhada humana, o que deixa o indivíduo à mercê de suas próprias decisões e atitudes. Ele vê a realidade como um feixe de possibilidades diante das quais o ser, com sua liberdade de escolha, pode optar pelas que mais lhe convém. Estes caminhos podem ser englobados, para ele, em três opções primordiais – o estilo estético, no qual cada um busca aproveitar ao máximo cada momento; o estilo ético, dentro do qual o homem procura viver com atitudes corretas e morais; e o estilo religioso, que se apóia sobre a fé⁽¹⁰⁾.

Liberdade⁽¹ ⁴⁾ 
       Se pararmos para pensar no termo “liberdade”, indo do senso comum até o sentido mais formal do assunto podemos perceber varias vertentes sobre isso. Os psicólogos existencialistas vão argumentar que uma pessoa exposta a uma determinada situação, em que nesta situação lhe seja concebida uma escolha a liberdade será crucial para que tal fato ocorra.  Afinal, escolher uma coisa é antes de qualquer coisa abrir mão de qualquer outra possibilidade.
       Nós não podemos reduzir a liberdade em apenas fazer o que eu quero, na hora que eu quero. É preciso analisar uma série de questões que vão da economia até a política. Liberdade pode ser conceituada como a mais simples das escolhas, já que como já foi dito anteriormente, se eu escolho algo, por menor que seja eu anulo todas as outras possibilidades.
       Se eu, como homem, não sou capaz de pagar o preço da minha liberdade, lidando com suas consequências estarei então, terceirizando minha responsabilidade, e usando de uma má fé, como denominou Sartre⁽¹²⁾. Porém, nenhuma consequência será suficiente para me tirar à responsabilidade do ato, porque elas sempre estão depois do ato.
       Os existencialistas vão falar que o homem é liberdade em seu próprio ser e que a existência não só precede como comanda a essência. E de fato é. Kierkegaard⁽¹³⁾ vai defender que nada nos define a priori, ele afirma nossa liberdade radical. No entanto, como diz o velho ditado popular: “tudo tem seu preço”. Seria muito fácil, ou até mesmo cômodo, se saíssemos fazendo e optando por tudo que “nos der na telha”. Toda ação exige uma reação, e não há como fugir disso. E é exatamente por cada ação ser acompanhada por uma reação, que cada escolha é acompanhada por sua consequência.
       Levando a liberdade pro seu senso comum, onde nesse caso, seria denominada como algo que me deixa livre para tomar qualquer decisão que eu queira, e que se algo me impedir de fazer isso, significa que eu não a tenho, é uma liberdade “falsa” e pode-se dizer até mesmo que seja uma liberdade utópica ou reducionista. Segundo Heidegger⁽⁵⁾, nós somos antes de tudo seres contextuais, e nossa liberdade precisa ser entendida dentro desse contexto. Eu sou livre? Sou. Posso escolher o que fazer da vida? Posso. Então se eu sou livre e posso fazer o que eu quiser, eu posso comprar um carro do ano, ou uma casa dos meus sonhos. Analisando isso de fora, parece bem convincente. No entanto, se eu não tenho condição financeira pra tanto, não quer dizer que eu não seja um ser livre. É aí onde entra o ponto que o ser humano ele não pode de modo algum ser estudado fora do seu contexto.
       A única coisa na qual sou verdadeiramente responsável é quando atuo isso, nada e nem ninguém pode fazer por mim. Mas não é qualquer ação, é uma ação na qual me responsabilizo, ou seja, assumo que sou aquilo que faço de mim. Então se alguém apontasse uma arma na minha cabeça e me obrigasse a fazer tal coisa, eu teria a liberdade aí, liberdade de ato, de fazer o que ele obriga para não perder a vida ou a liberdade de não fazer e perder a vida. Ou seja, sempre o sujeito da ação serei eu, e ninguém poderá fazer por mim. Sou livre no sentido de que liberdade é responsabilidade. Portanto, ser livre é ser responsável pelo que se é.

Culpa⁽³⁾
       Como consequência dessa liberdade que dizemos ter, condicionada por padrões, sistemas, e, na maioria das vezes, por nós mesmos – suscita nos seres humanos o sentimento de culpa, que faz companhia ao homem nos mais diversos momentos da vida, resultado de decisões, com influências coletivas ou unicamente individuais, pensadas ou meramente impulsivas, o que reforça o questionamento de Boss⁽⁶⁾:
"(...) o que é que ela propriamente “deve” em todos estes milenares sentimentos de culpa padronizados e patológicos, no sentimento de culpa da criança diante dos pais e dos professores, nos adultos em seu relacionamento com o próximo, com o estado, com Deus, com o destino, com a vida? E quem é o credor específico destas culpabilidades? "
       A culpa é a revelação da insatisfação própria, como afirma Boss⁽⁶⁾:
"(...) todos os sentimentos de culpa baseiam-se neste ficar – a – dever (...)” – por ferirmos concepções e/ou sentimentos pessoais, comportamentos socialmente aceitos, ou moralmente impostos, que segundo o existencialismo (...) tende a responsabilizar uma pessoa por um ato determinado e específico numa relação de causa e efeito entende-se a culpa ontológica, em termos existenciais, como o sentimento de “estar em dívida”. 


Angústia⁽¹⁾

       É o motor da própria experiência, o encontro com a própria liberdade, do ponto de vista existencial. Quando se tira a angústia, se tira opção de escolha. Então o que seria exatamente?
       No censo comum, vemos a angústia como um sentimento negativo, mas para os existencialistas, ela é a consciência de nossa condição humana, ela nos amedronta, diante da inexistência de um propósito de vida. É exatamente, a consciência de liberdade, a totalidade da existência humana, e não somente o sentimento sombrio que aparece em determinadas situações. E pode se dividir em três tipos: a angústia do ser, a angústia  diante do aqui- agora, e a angústia da liberdade⁽⁸⁾.
       A angústia do ser, nada mais é que o ser não encontrar sentido na existência, tendo em vista que,  apenas Deus pode dar sentido a vida, uma vez que Ele mesmo não existe. Se dá quando pensamos que tudo o que existe agora, já foi  nada um dia, assim como antes da criação do mundo, e que ainda pode tudo deixar de existir novamente⁽⁸⁾. Por conta disso, Nietzsche⁽⁹⁾ afirma:
"Toda a beleza e sublimidade que atribuímos a objetos reais ou imaginários reivindico como propriedade e criação do homem. Elas são sua mais bela justificativa. O homem como poeta e pensador! O homem como Deus, como amor, como poder! Com que generosidade real ele se empobreceu e se fez infeliz para adorar coisas. Até o presente, sua maior baixeza foi ter admirado e venerado coisas, esquecendo que foi ele quem ciou e admirou".
A angústia do aqui - agora⁽⁸⁾, é a consciência de que o homem é um ser temporal, com histórias individuais, embora precise se identificar com os traços da humanidade, embora participe de grupos, e , que mesmo que houvessem objetos eternos, o homem jamais poderia ser também. E por que o homem não poderia ser eterno? Porque o eterno é uma abstração vazia, segundo conceito aristotélicos, e o homem, como ser concreto, não possui identificação com o abstrato, dentro de uma relação vital. Quanto a angústia de liberdade⁽⁸⁾, é justamente a consciência de que, somos indivíduos obrigados a ter escolhas, e que somos responsáveis por suas consequências. Para Sartre⁽¹²⁾, a negação da angústia diante da liberdade é a própria negação da liberdade como condição humana.

Autenticidade⁽¹⁾
       É a partir desse ponto onde seria totalmente conveniente falarmos que o ser humano dentro das condições de ser livre, possuidor sentimentos, formador de conceitos e opiniões, formador de si quanto a sua personalidade e características, que ele pode ser tanto denominado como um indivíduo autentico como um indivíduo inautêntico, levando em consideração mais uma vez o pensamento de Heidegger⁽⁵⁾:
 São condições igualitárias, propiciadas a todos, ao longo do percurso histórico de uma existência; emergem, a cada momento, da consciência que o homem tem de que sua vida flui, inexoravelmente, para a morte."
        Ser autêntico não significa dizer tudo o que nos ocorre, nem sair distribuindo julgamentos e muito menos tratar os outros com superioridade e sarcasmo. Ela começa por aceitar o real, por aceitar a própria pessoa e as suas circunstâncias.
        É autêntica a pessoa que age de acordo com seus valores e virtudes. Se você não mente, se não se intimida e defende a verdade mesmo quando outros lhe propõem outra postura, e reflete exatamente o que diz ser, você é autêntico.
        A autenticidade é a afirmação da liberdade. Sartre⁽¹²⁾ afirma que quando eu vivo a minha liberdade e assumo a minha angústia, isso é uma vivência autêntica. Somos inautênticos, quando não vivemos a nossa liberdade de escolha e terceirizamos a nossa angústia, pelo discurso da alienação, em não assumir as responsabilidades, é por isso que um psicólogo, por exemplo, não pode dar conselhos, não pode dizer ao paciente, assim como qualquer outra pessoa, o que fazer, porque se algo dá errado, a culpa, passa a ser não do indivíduo em questão, mas de quem o colocou em determinada situação.
       "A busca da autenticidade é a própria busca da condição humana naquilo que ela tem de mais peculiar e sublime: a consciência de si e do outro. É na autenticidade que o homem se torna, através da consciência, homem na busca dos valores que irão determinar-lhe essa condição."⁽⁸⁾


Solidão⁽¹ ⁴

       Entende-se muitas vezes a solidão apenas como o estado de estar sozinho, precisando da companhia de uma outra pessoa. Não é apenas isso, podemos está rodeado de pessoas e ter esse sentimento, é como se fosse um vazio existencial que por mais que nos socializamos; não conseguimos preencher.
      A solidão é um sentimento inerente ao ser humano, todos já passamos por algum momento em que sentimos falta de alguma pessoa, de uma coisa ou até mesmo de um momento; por não termos isso nos achamos sozinhos e esse sentimento nos invade e a perspectiva de mudança se perde diante do nosso sofrimento.
      "Solidão é saber do amor; da paixão, de momentos de prazer; é saber que a vida tem momentos felizes. Felizes e suaves deleites da vida. E apesar de tudo saber da tua ausência." ⁽⁷⁾
 Com esse texto de Valdemar Augusto Angerami⁽⁷⁾, pode-se analisar a solidão nesse aspecto também, a busca do ser humano pela felicidade que na maioria das vezes é frustrada e a solidão nos abate.
     Somos seres que vivemos socialmente, gostamos de estar perto das pessoas que amamos, porém temos a certeza que é de nós  que depende nossas opções. Essa certeza talvez traga um pouco de angústia, medo e solidão. Aceitar esse sentimento como natural poderá ajudar para desenvolvermos formas de aceitar, diferentes da forma desesperadora.
       Contudo, para o existencialismo, a solidão não é somente o sentimento, mas também se remete ao ato de escolha, feitas estas, quando estamos sós. Nós somos totalmente responsáveis por elas. Tem haver com nossos atos, e que estes são apenas consequências das decisões diárias e constantes.

Bibliografia:

6. Boss
8. VALDEMAR AUGUSTO ANGERAMI-CAMON. ISBN: 8522105529. Edição: 4. 2006.  
9. Nietzsche, Friedrich, dos Santos M. F. Vontade de potência. Livraria do Glôbo, 1993.

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