domingo, 19 de maio de 2013

Indicando: Precisamos falar sobre Kevin

Estou postando dessa vez algo de cunho indicativo, super recomendo esse filme.
Há também o livro, riquíssimo em detalhes que lhe farão compreender melhor o que se passa. 

Sinopse:
Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta recomeçar a vida com um novo emprego e vive temorosa, evitando as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação foi se agravando mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva jamais imaginaria do que ele seria capaz de fazer.


Analisando Psicanaliticamente:
      "Precisamos falar Sobre Kevin", é um drama que retrata a relação conturbada de uma mãe com um filho que ela nunca desejou ter e que por conta disso, não sabia como amá-lo. Este, como consequência, sofre e responde amargamente essa rejeição.
      Eva não desejava ser mãe, mas sua barriga crescia a cada mês, e por conta disso, abdicou de sua carreira e sonhos. Essa sensação de perca não permitiu que Eva criasse um vínculo de amor com seu filho, Kevin. A relação da mãe com o filho é extremamente importante para a constituição da criança como sujeito e da sua relação com o mundo. Kevin tem uma mãe que não se identifica com essa condição e que por conta disso, a situação é devastadora para ambos.
 Segundo Lacan, a criança não nasce sujeito, é simplesmente um ser regido por pulsões que precisam ser atendidas. Esse período é chamado por Freud de autoerotismo. A partir daí, ocorre um novo momento psíquico, onde o bebê inicia a constituição do seu eu corporal como unidade. Lacan o chama de Estádio do Espelho, constituído por três etapas. Na primeira, o bebê percebe o mundo apenas como uma extensão de si. Na segunda, a criança percebe a imagem do outro (mãe), mas de forma irrealizada. Na terceira fase, o bebê se percebe enfim, e ocorre à identificação à sua própria imagem, uma identificação à mãe como imagem. A mãe funciona como um espelho para a criança, refletindo o que esta virá a ser. É uma relação extremamente próxima e necessária, que determinará toda dependência moral e afetiva da criança. O eu é, assim, formado como um conjunto de traços de identificação com o outro. Kevin quando nasceu, chorava muito e Eva não sabia como lidar com isso, e desesperava-se, achava que ele o fazia na tentativa de afetá-la. O que me faz lembrar que é muito importante que a mãe se identifique e signifique as necessidades do bebê, pra que ele possa se sentir querido e protegido.
      Durante toda a sua vida, Kevin pode perceber a ausência do amor materno, e do quão enfadonho era pra sua mãe, o peso de ter um filho indesejado. Isso se mostra perfeitamente durante todo o filme, mas em especial, num dado diálogo dos dois, quando Kevin ainda criança, responde: "Só porque você se acostuma com uma coisa, não quer dizer que você gosta dela. Você se acostumou comigo.". Ele respondeu toda a rejeição de forma violenta, onde tudo o que importava pra ele, era a reação de sua mãe diante de seus atos agressivos. Tudo era questão de despertar algum sentimento, mesmo que fosse a raiva. Considerando Lacan: “Personalidade é sempre o resultado interativo de fatores genéticos e constitucionais com fatores aprendidos ou ambientais.” e não podia ser diferente nesse caso, ele construiu o seu eu, a partir do que sua mãe refletia, ou seja, maldade, frieza e sadismo. Kevin queria controlar a mãe, isso se mostra claramente quando ainda aos seis anos, usava fralda, no descontrole de seus esfíncteres, uma fase (anal) que deveria ter acabado pelo menos há dois anos. Dá-se então, um momento crucial da história. Eva descontrola-se e expressa, finalmente, alguma atitude às afrontas de seu filho agredindo-o, mas não sabe como lidar com a situação, sente-se culpada e torna à posição de submissa em relação a Kevin, novamente. E ele, claro, usa dessa agressão pra concretizar seu controle por sua mãe. O que remete a outra passagem, quando Kevin já adolescente sai com sua mãe, para uma tarde a dois, proposta por Eva, onde, diga-se de passagem, ela agiu friamente todo o tempo, e ele afirma que pode julgar sua mãe pelos seus atos de maldade, porque ele os conhecia muito bem.
       Então Eva engravida do segundo filho. Nasce uma menina, Celia, que é uma das vítimas das maldades do irmão mais velho. Uma vez que, sendo a menina fruto de uma relação amorosa madura, por tanto recebendo uma criação repleta de amor e mimos, faz de Kevin ainda mais revoltado, ao perceber a discrepância da relação Eva-Kevin e Eva-Celia. O pai (Franklin), quase nunca aparece ao decorrer da história. Quando aparece, é extremamente omisso e permissivo, pra ele é muito mais fácil culpar Eva de ser paranoica quanto às maldades de seu filho do que admitir que ele tenha um problema. Franklin não exercia a função paterna, de autoridade, e por isso não ouve a castração no complexo de Édipo. Kevin usa disso pra afetar sua mãe. De forma dissimulada, mostra pra Eva o quanto seu pai sempre acerta com ele, e de como o ama por isso. Seu objetivo sempre foi afetar a mãe, ter a atenção dela pra si. Então, no seu aniversário de 16 anos, Kevin é autor de uma chacina, onde mata vários alunos da escola onde estuda e seu pai e irmã.
      No ato de matar Franklin e Celia, as pessoas que Eva realmente tinha amor, ele toma os objetos de desejo da mãe, e finalmente consegue sua atenção, o seu amor. Esse, a meu ver, seria o complexo de Édipo.

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